História Clínica do AEH

O padrão hereditário foi identificado por William Osler em 1888 quando observou a mesma ocorrência em vários casos de uma mesma família, mas em 1882 o médico alemão Heinrich Quinke já havia descrito o inchaço agudo da pele e mucosas. na época, o médico chegou a desenhar a aparência dos pacientes, como forma de registro de crises de angioedema.
Em 1963, os médicos Donaldson e Evans identificaram a deficiência do inibidor C1 esterase como a causa da doença, diante da  observação inicial  de que o plasma de portadores de AEH seria deficiente, na capacidade inibitória da calicreína plasmática. Quando Donaldson e Evans mostraram a deficiência de C1 – INH resultando em AEH, apenas a atividade de C1 – INH na ativação de C1 era conhecida. Desde então, identificou-se a ação de C1 – INH na regulação do sistema de contato de outras vias de ativação do Sistema Complemento e também, o papel na regulação da coagulação e fibrinólise.

Fonte: Convivendo com AEH – Um manual para conhecer o angioedema hereditário pág. 5
Produzido pela abranghe – São Paulo 2011.

Fonte: parte integrante do texto “Parece reação alérgica a drogas ou alimentos, mas pode ser angioedema hereditário”. Publicado em 22/03/2013 por Fleury Medicina e Saúde – Edição:  nº 1 / 2013. (adaptado de: Diretrizes do diagnóstico e tratamento do angioedema hereditário 2010).
Disponível em: http://www.fleury.com.br/medicos/medicina-saude/boletim-medicina-e-saude/Pages/default.aspx  (Assessoria médica – Dr. Luiz Eduardo Coelho Andrade: luiz.andrade@grupofleury.com.br).

A TRAJETÓRIA DOS PACIENTES

As inúmeras dificuldades encontradas pelos portadores para que consigam obter diagnóstico correto, principalmente pela falta de interesse nas informações e conhecimento sobre a doença (Leia mais em: Diagnóstico), faz com que permaneçam por vários anos sofrendo com crises, sendo submetidos a  dar frequentes entradas em pronto socorros, medicamentos não eficazes, a procedimentos por vezes desnecessários, além de os tornarem vulneráveis e suscetíveis a quadros depressivos.
Não é tão raro encontrar portadores que tenham sido ou estejam sendo tratados com ansiolíticos ou anti-depressivos porque simplesmente não houve um diagnóstico ou, foram diagnosticados equivocadamente, com distúrbios que estariam somatizando dos sintomas que as crises de AEH manifestam; ou ainda,  por estarem realmente frustrados por não se conseguir “descobrir” o que as causaria.  Em alguns casos, a ajuda serve para aceitar o convívio com uma doença que não tem cura (sabendo-se ou não dela).
Outro agravante é o fato de que algumas crises acometem temporariamente (parcialmente ou por inteiro) a face das pessoas, o que as leva a momentos de baixíssima auto-estima, a perder compromissos importantes, como dias de trabalho, prática de atividades físicas habituais e a abrir mão de momentos de lazer. Crises na face, ocorrem com intervalos relativamente maiores; alguns casos nem apresentam, em outros são recorrentes, enquanto que as crises abdominais são muito frequentes, extremamente doloridas, acometem cerca de 75 a 80% dos portadores e são igualmente debilitantes.
A associação de medicamentos ansiolíticos e anti-depressivos está relacionada ao AEH exclusivamente pelo fato de como o paciente se sente, por estar frustrado em não saber a doença que tem, ou em situações em que o portador tenha dificuldades em ter que conviver com a doença.
A trajetória dos indivíduos até o diagnóstico definitivo, se inicia muito cedo (por volta dos 5 anos de idade; às vezes antes) e pode perdurar por décadas, sem solução e passando por todas as especialidades médicas, inicialmente: pediatras, ortopedistas e alergistas, ao longo dos anos reumatologistas, gastroenterologistas entre outros…e em último caso: psicólogos e psiquiatras.
Angioedema hereditário é uma doença do metabolismo de cada pessoa. Não deixa sequelas, não é degenerativa, não é contagiosa e não torna os portadores incapacitados e não depende do tipo de vida ou condições sociais para se manifestar!
Não há quem goste de sentir dor, passar mal, inchar, ainda mais se isto ocorrer com frequencia e não houver explicação. Os obstáculos que enfrentam fazem com que os portadores evitem falar sobre o assunto, imaginando serem  os únicos a passar por eles, o que os coloca em situações bastante constrangedoras e delicadas, vulneráveis, além de dificultar a circulação de informações a respeito.

O SISTEMA COMPLEMENTO
Compreende mais de 30 proteínas, ativadoras e reguladoras de reações em cascata, que podem ser encontradas no plasma e nas superfícies celulares. Essas proteínas interagem entre si e com outras moléculas do sistema imunológico a fim de ativar mecanismos tanto da imunidade adaptativa, quanto da imunidade inata (por exemplo: iniciando e amplificando a inflamação).
Embora as discussões acerca da cascata do Sistema Complemento geralmente enfatizem o seu papel na lise de agentes infecciosos, as outras funções desempenhadas por esse sistema são igualmente relevantes (GRUMACH, 2009).
Os fragmentos protéicos gerados pela ativação do Sistema Complemento tem papel fundamental da resposta inflamatória. Alguns desses fragmentos são capazes de se ligar a receptores em mastócitos e basófilos, induzindo a degranulação dessas células e conseqüente liberação de mediadores inflamatórios.

A ATIVAÇÃO DO SISTEMA COMPLEMENTO
O Sistema Complemento deve ser regulado de maneira precisa e eficiente a fim de evitar o consumo desnecessário das proteínas que o compõem, a indução de respostas inflamatórias exarcerbadas, entre outros. Os reguladores do Sistema Complemento podem ser divididos em duas categorias: reguladores de supefície celular (encontrados nas membranas celulares) e reguladores solúveis (encontrados, principalmente, no plasma). O regulador de sistema complemento relacionado ao AEH é o inibidor C1-esterase (C!-INH), que é solúvel. A ativação do Sistema Complementopode ser iniciada por três diferentes vias: clássica (que inicia a cascata após interação com anticorpo); alternativa ( com o reconhecimento de vírus, bactérias, fungos, parasitas…); das lectinas (a lectina liga-se aos carboidratos presentes nas superfícies de micro-organismos e é reconhecida por receptores, presentes nos fagócitos).

O QUE É E COMO AGE O INIBIDOR C1 ESTERASE (C1-INH)
É uma proteína plasmática intensamente glicosilada. Sob condições fisiológicas, o C1 – INH impede a ativação excessiva ou inapropriada da via clássica; inibe o C1r e C1s ativados, causando sua dissociação de C1. Também inibe a serino protease 2 associada à lectina ligadora de manose (MASP2) nas primeiras estapas da via das lectinas. O C1 – INH também inibe a ativação da via alternativa pela ligação reversível a C3b, que por sua vez, impede a ligação do fator B. Esta atividade difere da inibição da via clássica das lectinas, pois não envolve a inibição de proteases.
O C1 – INH é responsável pela maioria da inibição da calicreína plasmática e do fator de coagulação XIIa e, assim, é o maior inibidor da ativação do sistema de contato. Também inativa o fator XIa e, então, está também envolvido na regulação da via intrínseca da coagulação.

DEFEITO NO SISTEMA COMPLEMENTO
De quando se inicia o desenvolvimento fetal até após o nascimento, as proteínas do Sistema Complemento são, em condições normais, sintetizadas sempre em níveis crescentes, para atingir concentrações séricas próximas aos de adultos a partir de um ano de idade. Este fator impossibilita o diagnóstico neonatal através da triagem com o “teste do pezinho”.

Fonte: (angioedema hereditário – Grumach, Anete Sevciovic Grumach  páginas 23 a 29 EPM 2009 SP)